terça-feira, junho 15

Taipas [3ª 4ª]

Já há alguns tempos que tenho ido às Taipas à 3ª 4ª de cada mês.
Começou por ser uma curiosidade (como não sou gato, estava descansado), depois passou a ser um interesse de apreciação musical, mas há já algum tempo que passou para uma necessidade.
Não é que esta necessidade de paragem fosse uma novidade para mim, inclusivamente já o foi semanalmente, mas de facto, os dias vão enchendo a cabeça de uma carga de tensão tal que uma pessoa sente que tem de fazer regularmente uma ligação à terra.
Não deixa de ser um pouco estranho para mim, que sempre... bem, pelo menos durante muito tempo, era o ar que movia tudo cá dentro do 'aquário'... Mas estas coisas também se educam e se moldam... limando pouco a pouco, vão-se interiorizando ao longo do tempo para conseguirmos viver as coisas com maior entrega, com maior profundidade e de uma forma mais esclarecida.
Estaria longe de imaginar, há alguns anos, que me permitisse deixar-me invadir durante tanto tempo pelo silêncio. Não só pelo silêncio individual meditativo, mas acima de tudo, por aquele contagiante e penetrante silêncio comunitário como o das Taipas.
Poderia ali ficar a noite toda, intercalando a música....... o silêncio........ a música. . . . . . o silêncio. . . . . . . a música. . . . . . . . . . .
. . . . . o silêncio. . . . . . . . . . .

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domingo, junho 13

Encontro de Valores



A música é, normalmente, uma via de encontro e de partilha de sensibilidades, vivências e valores comuns.
Pela música, deixamo-nos contagiar por tudo o que ela transmite... desde a melodia, à mensagem, passando pelos instrumentos, arranjos, interpretações, ritmos...
Por Vila do Conde, passou este fim de semana o Ollin Kan, um festival que expressa um eco de apelo a esse valor tão nobre - mas às vezes, com fronteiras tão difíceis de definir - que é a liberdade. E este Festival apela mesmo a essa partilha do comum, desse grito de liberdade, que, independentemente da língua, do credo, da cultura, procura sempre encontrar forma de ecoar para lá das barreiras, procura sempre rasgar as paredes que a tentam enclausurar em si mesma.
Qualquer que seja a origem desse eco, é engraçado como as dinâmicas das músicas, dos estilos se tocam entre si, dando espaço a que interajam nas formas de interpretar, e num abraço cheio de força, cheio de energia, se façam ouvir fundidas umas nas outras. Os grupos que subiram aos palcos neste festival, transmitiram isso mesmo: essa capacidade de abraçarem, num momento musical singular, de sons e ritmos justa-postos mas que encontram na força da mensagem que querem passar a união indissociável que mexe connosco, que não nos deixa na letargia do tempo ou do espaço.
É admirável como nos deixamos dominar por esta energia libertadora e a pulsação se eleva em consonância com o ritmo das sonoridades.
É certo, que mais facilmente nos podemos deixar levar se partilharmos por completo de outros espíritos, vivências, práticas (se não mesmo, rituais) que acompanham por vezes estes valores ... um espírito que nem sempre projecta uma imagem real da mensagem subjacente ... os aromas que sentiam no ar, falam por si (literalmente :), e que trazem, por vezes, uma visão ilusória do todo - desgarrada do caminho, do horizonte ou dos meios... Mas mesmo que mantenhamos "os pés assentes no chão", é impossível ficar indiferente a toda a corrente que a música as palavras geram em nós.
Pessoalmente, e procurando enquadrar toda esta experiência - que eleva particularmente o valor da liberdade - na matriz de valores que me alicerça, há um efeito extremamente terapêutico da VIVência que ela transmite. Há um puxar para cima, para a vontade de ir à 'luta' em cada dia, de fazer brilhar interiormente o escudo de sol que desponta connosco em cada dia. E não importa o cansaço nas pernas e nos olhos pois há algo lá dentro que reencontra o seu vigor.






video & photos: emlino 2010